sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Moving On... Again!

Ontem, quinta-feira, mudei de república. Com o término do contrato de aluguel do apartamento que eu dividia no bairro Cidade Nova, me mudei para outra república estudantil, localizada no centro de Belo Horizonte, e na qual moram dois de meus colegas de mestrado.

A mudança foi um dos maiores caos que eu já vi. A companhia de mudança consistia em um motorista assumidamente alcólatra de um caminhão estourado, outro trabalhador especializado em organizar os móveis e as caixas de mudança dentro do caminhão, e dois carregadores mais magros e mirrados do que eu. Além disso, o motorista do caminhão não é natural de Belo Horizonte, e acabou errando o caminho na hora de chegar a minha nova residência (não culpo ele, já que o trânsito no centro de BH não é nem um pouco lógico). Resultado: o processo demorou mais de seis horas... e como pagávamos a companhia por hora, doeu em nossos bolsos.

Agora, digito na minha nova residência. Durante a próxima semana, estarei dividindo quarto com um colega meu, até ele se mudar para São Paulo, onde volta a trabalhar no Banco Central. Por ora, juntei meus móveis e algumas caixas cheias de artigos lidos e construí uma trincheira no espaçoso quarto dele (ver fotos abaixo). Pelo menos, depois mudarei para o quarto com o maior armário da casa. Aliás, em termos de acesso a bens, serviços e comércio, o centro de Belo Horizonte é bem melhor de se morar do que na Cidade Nova. O único problema é o trânsito até o campus da UFMG, na Pampulha.


segunda-feira, fevereiro 16, 2009

The Human Capital Century

Um dos pontos mais interessantes no estudo da história econômica, ou mesmo na macroeconomia do crescimento de longo prazo, é a discussão sobre as causas da aceleração do crescimento econômico norte-americano a partir de meados do século XIX e sua supremacia na economia mundial no século seguinte. Muitas hipóteses clássicas podem ser encontradas da bibliografia: o papel da ética protestante para a cultura do trabalho e da poupança (Max Weber), a colonização de povoamento, a liberdade política e econômica, ou mesmo o protecionismo aduaneiro nos estágios iniciais de sua industrialização, o espírito empreendedor anti-aristocrático do seu povo, a abundância de recursos naturais, a atração de imigrantes europeus qualificados, entre outros. Contudo, Claudia Goldin, historiadora econômica de Harvard, apresenta uma hipótese nova, e que faz muito sentido. Para ela, em seu artigo The Human Capital Century and American Leadership, o progresso norte-americano foi conseqüência da qualidade de seu ensino, sobretudo ensino médio, tal como ocorreu em qualquer país que tenha crescido aceleradamente durante o século XX.

Goldin caracteriza o século XX como o “século do capital humano” devido à expansão do acesso a elevados níveis de educação por parte da maior parcela da população mundial. Segundo a autora, enquanto que no século XIX e início do XX a importância da educação era focada apenas no nível de alfabetização, e isso só nos países mais ricos, no final desse século quase todas os países do mundo preocupavam-se com a universalização do acesso ao ensino médio por parte de sua população. A expansão dos ensinos fundamental e médio nos países foi acompanhada por mudanças nas instituições de educação, pelo compromisso com o financiamento público da educação, tanto por parte dos governantes, como por parte dos contribuíntes, e por uma série de princípios igualitários-democráticos, que, sem os quais, o aumento do acesso à intrução pela população não teria os efeitos que apresentou sobre as sociedades. Como exemplos desses princípios, Goldin cita a flexibilidade curricular, a neutralidade de gênero no acesso às instituições de ensino, a separação da política educacional das instituições religiosas e a adoção de currículos de caráter acadêmico.

A explosão no acesso a educação ocorreu exatamente no século XX por questões tanto de oferta, como de demanda por ensino. Do lado da demanda, os avanços científicos verificados desde meados do século XIX, assim como o aumento da participação do setor público nas sociedades e nas economias, o desenvolvimento de sistemas de produção em larga escala e o estreitamento das relações entre a ciência e a indústria tiveram como conseqüência a elevação nos retornos à educação. Do lado da oferta, a expansão dos sistemas de ensino foi viabilizada pelo desenvolvimento de instituições cada vez mais hábeis para atender à demanda por educação, além da contribuição por parte do crescimento da renda per capita dos países, que elevou a base tributária necessária para o financiamento das políticas de educação, e pela coesão das sociedades em prol da expansão e universalização do ensino.

Pensamentos Irônicos

"A ironia é o pudor da humanidade." (Jules Renard)

"A ironia é a expressão mais perfeita do pensamento." (Florbela Espanca)

"A ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente." (Fernando Pessoa)

"A ironia é sobretudo uma brincadeira do espírito. O humor seria antes uma brincadeira do coração, uma brincadeira de sensibilidade." (Jules Renard)

"É preciso não confundir a ironia, a sátira, o epigrama, principalmente a ironia, com a expressão mais refinada do riso que é o humor." (Vianna Moog)

"Ironia é a pitada de sal imprescindível para tornar a refeição palatável." (Goethe)

"A piedade, só por si, é triste; a ironia, sem mais nada, é dura; mas as duas juntas dão um produto brando e cordial." (Machado de Assis)

"Ironia: humor à custa de uma segunda pessoa na presença de uma terceira." (Philip Graham)

"O riso é a aritmética elementar, o humorismo é a álgebra e a ironia é o cálculo infinitesimal." (Dino Segre)

"A ironia, planta rara, não viça em mato bravo; o humor exige estufa."
(Afrânio Peixoto)

"Só os grandes esgrimistas da palavra manejam, com elegância, a ironia, que fere o mais íntimo da alma." (Victor Hugo)

"A ironia é uma tristeza que não pode chorar e rir." (Jacinto Benavente)

"Na ironia há um fundo de crença na possibilidade de corrigir a existência lá onde sua revolta lhe denuncia as imperfeições." (Vianna Moog)

"A ironia é a higiene da mente." (Elizabeth Bibesco)

"É pela ironia que começa a liberdade." (Victor Hugo)

"A ironia é uma forma elegante de ser mau." (Berilo Neves)

"A ironia é o lirismo da desilusão." (Godofredo de Alencar)

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

The Dumbest Generation

O professor Mark Bauerlein (Emory University) publicou um livro alarmante, The Dumbest Generation. Segundo o professor, a recente abrubta queda na qualidade do ensino das escolas norte-americanas pode prejudicar as próprias instituições democráticas do país.

Why is it important for students to read and excel in school? This question may seem obvious, but Bauerlein’s answer is telling. If children do not read and learn, he writes, they betray their civic duty. Bauerlein believes that the purpose of education is to cultivate a responsible citizenry, and that a democracy cannot focus solely on the intellectual elite. But what if Bauerlein stopped castigating a generation he believes is ignorant of history and stupefied by technology—and thus incapable of civic engagement and responsible voting—and took a more pragmatic view based on current realities?


Aqui nos trópicos sabemos muito bem qual é o impacto político de baixos níveis de educação popular: corruptos eternamente perdoados e reeleitos pelos seus eleitores, cultura do "rouba mas faz", patrimonialismo, captura do eleitorado por discursos e promessas paternalistas, falta de pressão dos cidadãos em relação à produtividade de seus governantes, etc. Será que os Estados Unidos serão o Brasil do futuro?

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Uma Breve História do Século XX - Geoffrey Blainey

Nesses últimos anos, uma das minhas maiores curiosidades intelectuais era sobre como a história é ensinada e compreendida nos países desenvolvidos. Aqui, na América Latina, a história é fundamentada por teorias coletivistas, como o marxismo, o estruturalismo e algumas teorias derivadas das concepções católicas de sociedade. Em resumo, nessa concepção, a ação individual é quase sempre inferior à ação social: os indivíduos são restritos pelas forças sociais do meio em que vivem, restrições essas que podem se manifestar por toda uma série de coerções ao comportamento individual. Portanto, o objeto das ciências sociais é sempre o meio social, sendo o indivíduo como um ser a parte posto em segundo plano. Mais especificamente, estuda-se como que minorias sociais utilizam essas instituições para dominar as maiorias. Nos países anglo-saxônicos, por outro lado, as ciências sociais têm a ação individual como fundamento de análise, particularmente, no caso da Economia, no caso das decisões racionais (racional choice) tomadas pelas pessoas. As instituições e os mecanismos de coerção social não são negligenciadas, mas são vistas como decorrentes das decisões dos indivíduos e daquilo que as determinam (interesses, valores, crenças). Acredito que os pressupostos de ambas correntes de pensamento são influenciadas pela própria história de cada região.

Portanto, achava que livros de história escritos por autores dessas duas linhas de pensamento fossem totalmente distintos. Contudo, não foi o que pareceu nesse livro. A linha de pensamento do autor, um australiano conservador, segundo a Wikipedia, é muito semelhante ao que vemos no Brasil. É claro, não há, nesse livro, um explícito posicionamento ideológico e de juízos de valor por parte do autor tal como vemos no ensino de história nas escolas (e cursinhos pré-vestibular) brasileiras. O autor não classifica os movimentos políticos e os grandes protagonistas da história como "bons" ou "maus" de acordo com suas ideologias, convicções ou finalidades. As pessoas incluídas em sua narrativa são vistas como competentes ou incompetentes em suas profissões, como a política ou a carreira militar, independentemente de suas idéias pessoais. Os únicos fatores vistos por Blainey como intrinsecamente bons são o crescimento econômico e o progresso tecnológico. Talvez o tom de "centrismo" presente em todo o livro esteja relacionado aos interesses da editora, que, por ter ganhos crescentes de escala (como acontece com boa parte do mercado de bens culturais), maximiza seus lucros vendendo ao maior número de leitores possível, de modo que é interessante para ela restringir comentários polêmicos de suas obras para não ofender e espantar algum potencial consumidor.

De resto, o livro é muito leve. Não há uma densa análise de causas e conseqüências de todos os fatos históricos, mas sim uma simples narrativa, que ora alterna entre o cotidiano da vida da média das pessoas de uma determinada sociedade (mas não entendida como uma estrutura de classes sociais antagônicas), ora descreve batalhas importantes, e ora alterna para descrever a biografia dos principais nomes do século XX (como Churchill, Roosevelt, Stalin, Hitler, Mussolini, etc.). Aprendi várias hipóteses muito interessantes sobre relações de causalidade entre fatos, ao longo do século:

* No início do século, havia um clima de otimismo na civilização ocidental em relação ao seu futuro, incluindo questões referentes a tecnologia, conflitos internacionais e desenvolvimento sócio-econômico. Esse clima foi duramente abalado pelas duas guerras mundiais e pela crise de 1929 e, desde então, os movimentos intelectuais ocidentais são fundamentados pelo ceticismo em relação as suas tradições e culturas.

* O resultado da Primeira Guerra Mundial foi conseqüência da produtividade industrial dos países envolvidos. Os aliados dos Estados Unidos ganharam a guerra, porque esse país era o mais produtivo. Mas, se os Estados Unidos tivessem mantido neutralidade, a Alemanha teria vencido a França e a Inglaterra, já que é mais produtiva.

* O Estado hebraico na Palestina começou a ser formado em novembro de 1917, enquanto a região era colônia britânica, como um agradecimento do governo desse país aos judeus russos aos seus esforços na Primeira Guerra, e uma proteção a perseguições por parte da Revolução Bolchevique.

* As metrópoles só tinham a enriquecer com o comércio com suas colônias, já que importavam bens primários e exportavam bens industrializados, de maior valor agregado. Certo? Errado! A maioria das colônias fora implantada com interesse puramente de estratégia militar, com pouca produtividade econômica, e o colonialismo teve o efeito de enfraquecer economicamente (já que implicava em custos burocráticos e de defesa) e militarmente (por espalhar as tropas dos países pelo globo) as maiores potências européias, França e Inglaterra, em relação aos emergentes Estados Unidos e Alemanha.

* A reforma agrária instituída por Stalin na União Soviética, por abolir o lucro do agricultor, desincentivou a eficiência da produção. Resultado: 10 milhões de mortos de fome, só no início da década de 1930.

* O pai de Mussolini era socialista. Sua mãe era católica devota, conservadora e tradicionalista. O fascismo foi uma mistura dessas duas ideologias (!).

* O resultado da Segunda Guerra Mundial foi decidido por duas decisões equivocadas. Primeiro, de Hitler exterminar os judeus e demais grupos capturados, ao invés de explorar sua mão-de-obra qualificada em trabalhos forçados. Segundo, do Japão bombardear Pearl Harbor, ao invés de invadir a União Soviética pelo leste.

* Israel venceu a guerra de 1948 contra seus vizinhos árabes com o apoio dos.. países comunistas europeus! O alinhamento com os Estados Unidos, assim como o alinhamento do Egito com a União Soviética só ocorreria mais tarde.

* A revolução cubana teve, em seu início, uma ideologia nacionalista. Porém, após o confisco de propriedades norte-americanas no país, e a conseqüente e lógica retaliação, Cuba acabou se tornando dependente da União Soviética, e teve que adequar o seu regime político para isso.

* Em 1967, o governo egípcio estatizou o canal de Suez, até então o principal acesso do petróleo árabe ao Ocidente. Isso incentivou mudanças tecnológocicas no setor de transporte marítimo de óleo: os navios tornaram-se maiores, para agüentar a rota marítima alternativa (pelo Cabo da Boa Esperança, na África). Quando o canal foi reaberto, 8 anos depois, os navios eram tão grandes que não passavam por ele, e sua importância para a economia mundial foi muito abalada.

* A revolução comportamental dos jovens de 1968 foi provocada principalmente pelo progresso econômico. O crescimento da renda das famílias no período pós-guerra permitiu que os filhos mais velhos mantivessem parte de seus rendimentos para consumo pessoal, além de contribuir com o sustento familiar, e isso revolucionou o mercado de entretenimento.

Gostaria de ver essas hipóteses testadas em papers. Outra hora eu procuro.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Mapa da Pobreza no Brasil

Procurando pelo Google alguns artigos para minha dissertação, enocontrei os slides da aula de Desenvolvimento Sócio-Econômico da professora Tatiane Menezes (UFPE). Em um desses slides, está um mapa muito legal da proporção de pobres nas micro-regiões estaduais brasileiras: