quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Discussão Interessante sobre a Metodologia da Economia - Parte 5 (Metodologia da Economia Neoclássica)

Nesse ponto de sua dissertação, o autor aponta aqueles que considera os maiores pontos de sua crítica à metodologia da economia neoclássica:
O problema básico da ortodoxia é que ela traveste suas premissas fundamentais
(semânticas) de método de comunicação objetiva (sintática). É assim que
progressivamente proposições científicas que são falsificáveis e deveriam ter
justificativas teóricas mais profundas — e freqüentemente têm, mas muitos
ortodoxos ignoram os aspectos mais abstrusos do fundamento profundo da
ortodoxia, a teoria neo-walrasiana — são elevadas a verdades triviais.

Nesse ponto, destaco um detalhe: afirmar que os axiomas da teoria econômica neoclássica são "proposições científicas que são falsificáveis", mesmo que seja aceito pela maior parte dos economistas dessa linha de pensamento, é freqüentemente refutado por estudiosos de metodologia científica (economistas ou não). Cabe ressaltar que o falsificacionismo é um princípio metodológico pensado e teorizado para as ciências naturais, e não para as ciências sociais, e isso foi lembrado pelo próprio Karl Popper. Sendo uma ciência social aplicada, a economia tem suas teorias construídas a partir de proposições de origem filosófica e metafísica. Ou seja, os conceitos fundamentais da economia neoclássica, como "racionalidade", "equilíbrio", ou mesmo "market-clearing", não podem ser continuamente testados, até serem falsificados, refutados e substituídos por outros, tal como a metodologia popperiana propõe, simplesmente porque não são princípios empíricos. Se fossem, precisariam estar fundamentados por teorias biológicas e bioquímicas (isto é, exatas e naturais) do comportamento humano.

A metodologia da economia neoclássica, até meados da década de 1940, defendeu que esses conceitos e premissas fundamentais de suas teorias consistiam em verdades empíricas observadas, como apontou Stuart Mill ("as pessoas têm necessidades, e procuram satisfazê-las", "para atingir um mesmo fim, as pessoas escolhem um meio menos trabalhoso"). Contudo, após a crise da ciência economia, na década de 30, potencializada pela crítica keynesiana, segundo a qual os economistas não conseguiram prever a crise de 29 exatamente porque se ocupavam meramente de teorizar em cima de pressupostos pouco empíricos e demasiado metafísicos. A solução dessa crise metodológica saiu com o famoso artigo de Milton Friedman, no início da década de 50 (época do boom de crescimento econômico internacional pós-guerra), para o qual os pressupostos da ciência econômica têm importância meramente de caráter instrumental, isto é, devem ser avaliados, no sentido metodológico, não de acordo com sua observação empírica, mas sim com sua conveniência para a tomada de conclusões e de previsões de eventos futuros. Certamente, o instrumentalismo científico, tal como proposto por Friedman, é passível de críticas. Contudo, após sua publicação, suas idéias foram amplamente aceitas pela comunidade científica econômica, mesmo que muitos de seus membros ainda confiem na "lógica indutiva" de Stuart Mill.

Em um movimento de espiral, a ortodoxia vai elevando resultados
anteriormente construídos em um contexto teórico (e logo frágil) a categorias da
razão pura, e mesmo aqueles um pouco mais antenados em epistemologia aceitam
isso passivamente, um pouco por esperança de soluções técnicas superiores que
façam tudo entrar no lugar (”ah, mas no mestrado da PUC vê-se equilíbrios
múltiplos”), em parte pela força da autoridade (”mas é o Pedro Malan dizendo
isso”) e em parte pela facilidade com que um ser humano de atenção e cognição
limitada se insere num paradigma kuhniano.

Nesse ponto, o autor destaca o caráter pouco empírico da teoria do equilíbrio geral walrasiano, de grande importância na economia neoclássica. De fato, o equilíbrio geral depende de muitas suposições abstratas, inclusive de conclusões de modelos econômicos abstratos mais elementares, e a sua empiricidade é tema de muitas discussões. O autor também muito bem aponta a própria preocupação dos teóricos em economia com as suas limitações, ao continuamente desenvolver esboços de soluções técnicas para tentar fazer as conclusões dos modelos de equilíbrio geral emularem o mundo econômico real, mesmo às custas de novas suposições metafísicas e abstratas.

Contudo, novamente, associar esse fato com a inserção da economia neoclássica em um "paradigma kuhniano" é forçado. Thomas Khun desenvolveu sua noção de paradigma científico, no qual os cientistas se ocupam apenas com seu trabalho heurístico (técnico), pensando em "ciências normais", no qual as discussões metodológicas já foram superadas pelos seus estudiosos. E esse, obviamente, não é o caso da economia (em nenhuma corrente de pensamento)! Se as dicussões metodológicas são ignoradas, ou mesmo subestimadas, no departamento de economia da PUC-Rio é um assunto interno seu; mas estender esse problema à comunidade econômica interncacional, é um grande equívoco. Mesmo no mundo anglo-saxônico, em que a economia mainstream é mesmo mainstream, as discussões metodológicas não são conclusivas (e eu posso garantir isso pessoalmente, como pesquisador sobre o tema).

Uma alternativa aos paradigmas kuhnianos é a associação das correntes de pensamento econômico aos programas de pesquisa lakatosianos. Em Lakatos, ao contrário de em Kuhn, apresenta-se a dicussão metodológica não em "ciências normais", com um paradigma definido, mas sim em ciências com linhas de pensamento concorrentes. Nesse caso, os problemas apontados pelo autor sobre a falta de discussões metodológicas sobre os pressupostos das teorias econômicas na PUC-Rio devem-se à agregação desses pressupostos ao "núcleo irredutível" de hipóteses pertencentes ao programa de pesquisa local, que não necessariamente precisam se repetir em outros programas de pesquisa econômicos. Logicamente, a aplicação dos programas de pesquisa lakatosianos à ciência econômica também não é impassível de críticas, principalmente devido à flexibilidade de suas hipóteses fundamentais (com a própria constante busca por refinamentos técnicos a seus problemas mais empíricos), e pela existência de sub-programas de pesquisa, ou de programas inter-dependentes (por exemplo, o programa novo-clássico de Chicago não é igual ao programa novo-keynesiano do MIT, mesmo que ambos pertençam a um programa neoclássico superior).

Um comentário:

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